sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Carta de Augusto Cury aos pais e educadores



Nossa geração quis dar o melhor para as crianças e jovens. Sonhamos grandes sonhos para eles. Procuramos dar os melhores brinquedos, roupas, passeios e escolas. Não queríamos que eles andassem na chuva, se machucassem nas ruas, se ferissem com os brinquedos caseiros e vivessem as dificuldades pelas quais passamos.
Colocamos uma televisão na sala. Alguns pais, com mais recursos, colocaram uma televisão e um computador no quarto de cada filho. Outros encheram seus filhos de actividades matriculando-os em cursos de inglês, computação, música.
Tiveram uma excelente intenção, só não sabiam que as crianças precisavam ter infância, que elas necessitavam inventar, correr riscos, frustrar-se, ter tempo para brincar e se encantar com a vida. Não imaginavam que a criatividade, a felicidade, a ousadia e a segurança do adulto dependiam tanto das matrizes da memória e da energia emocional da criança. Não compreenderam que a TV, os brinquedos manufaturados, a internet e o excesso de actividades obstruíam a infância dos seus filhos.
Criamos um mundo artificial para as crianças e pagamos um preço caríssimo. Produzimos sérias consequências no território da emoção, no anfiteatro dos pensamentos e no solo da memória deles.
Esperávamos que no século XXI os jovens fossem solidários, amassem a arte de pensar e fossem empreendedores. Mas muitos vivem alienados, não pensam no futuro, não tem garra e projectos de vida.
As crianças estão mais agitadas, não conseguem exercer por muito tempo uma actividade que exija um pouco mais de repetição, pois o mundo globalizado tem tantos estímulos que tarefas que necessitam de uma perseverança maior para ser desenvolvida estão perdendo espaço no quotidiano das nossas crianças. O preocupante é que para aprender qualquer coisa, é necessário paciência e perseverança, não podemos deixar tais características morrem nos jovens.
Imaginávamos que, pelo facto de aprendermos línguas na escola e vivermos espremidos nos elevadores, no local de trabalho, nos clubes a solidão seria resolvida, mas as pessoas não aprenderam a falar de si mesmas, têm medo de se expor, vivem represadas em seu próprio mundo. Pais e filhos vivem ilhados em seu mundo, raramente choram juntos e comentam sobre seus sonhos, mágoas, alegrias, frustrações.
Na escola, a situação é pior. Professores e alunos vivem por anos juntos dentro da sala de aula, mas são estranhos uns para os outros. Eles se escondem atrás dos livros, das apostilas, dos computadores.
As crianças e os jovens aprendem a lidar com factos lógicos, mas não sabem lidar com fracassos e falhas. Aprendem a resolver problemas matemáticos, mas não sabem resolver seus conflitos existenciais. São treinados para fazer cálculos e acertá-los, mas a vida tem contradições, as questões emocionais não podem ser calculadas nem tem conta exacta.
Os jovens são preparados para lidar com decepções? Não! Eles são treinados apenas para o sucesso. Viver sem problemas é impossível. O sofrimento ou nos constrói ou nos destrói. Devemos usar o sofrimento para construir a sabedoria. Quem se importa com a sabedoria na era da informática?
Nossa geração produziu informações que nenhuma outra geração jamais produziu, mas não sabemos o que fazer com elas. Raramente usamos essas informações para expandir nossa qualidade de vida. Você faz coisas fora da sua agenda que lhe dão prazer? Você procura administrar seus pensamentos para ter uma mente mais tranquila? Nós nos tornamos máquinas de trabalhar e estamos transformando nossas crianças em máquinas de informação.
Os estudos mostram que informar é muito diferente de conhecer. As crianças são bombardeadas por variadas informações, as escolas estão cada dia mais exigentes, e os pais por sua vez querem que seus filhos aprendam mais do que eles tiveram a oportunidade aprender. Porem não podemos esquecer que o conhecimento deriva da junção da informação com a experiência. Precisamos colaborar para que os nossos jovens a debatam idéias, elaborarem as suas ideias, criem seus próprios pensamentos alicerçados nas informações adquiridas. Pois ao contrario nossos jovens se tornaram uma massa de repetidores de idéias e não seres humanos críticos, ousados, e capazes de enfrentar a competitividade do mercado de trabalho que vivemos hoje.
Preocupado com todas essas questões criei o projeto escola de inteligência. Um projeto que visa colaborar com as escolas na educação para a vida, formando pensadores e autores da sua própria historia. Devemos nos adaptar com os avanços tecnológicos sem nos esquecer da nossa essência e sensibilidade humana.
Espero colaborar com a educação desse novo milênio!
Forte Abraço,
Augusto Cury

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