domingo, 6 de dezembro de 2009

Caminhos…







Na cidade de Savatthi, no norte da Índia, Buda mantinha um grande centro onde as pessoas vinham meditar e ouvi-lo discorrer sobre Dharma. Todas as noites, um jovem aparecia para ouvir suas palestras. Durante anos ele apareceu para ouvir as pregações de Buda, mas nunca colocou em prática qualquer dos ensinamentos recebidos. Até que certa noite, chegando um pouco mais cedo, encontrou Buda sozinho. Aproximando-se, interpelou-o:
- Senhor, tenho uma pergunta que fica surgindo em minha mente e provocando dúvidas.
- Oh, não deve haver dúvidas no caminho do Dharma. É preciso esclarecê-las. Qual é a sua pergunta?
- Senhor, há muitos anos que venho ao seu centro de meditação, e reparei que há um grande número de reclusos ao seu redor, monges e freiras, e um número ainda maior de leigos, homens e mulheres. Alguns deles vêm aqui há anos e posso ver com clareza que alcançaram o estágio final; é bastante óbvio que se encontraram plenamente liberados. Posso ver também que outros experimentaram uma certa mudança em suas vidas. Também eles se liberaram. Mas, senhor, também noto que há um grande número de pessoas, dentre as quais me incluo, que permanecem como eram, ou estão talvez piores. Não mudaram em nada, ou não mudaram pra melhor. Por que há de ser assim, senhor? As pessoas vem procurá-lo, um grande homem, plenamente iluminado, um ser poderoso e compassivo. Por que o senhor não usa seu poder e a sua compaixão para liberá-las todas?
Buda sorriu e perguntou:
- Meu jovem, onde você mora? Qual é sua terra natal?
- Moro aqui em Savatthi, senhor.
- Sim, mas seus traços mostram que você não é desta parte do país. De onde veio? Onde nasceu?
- Sou da cidade de Rajagaha, senhor. Vim pra cá e me estabeleci em Savatthi há alguns anos.
- E rompeu todas as ligações com Rajagaha?
- Não, senhor, ainda tenho parentes lá. E amigos também. Faço negócios em Rajagaha.
- Então, deve ir e vir de Rajagaha com bastante frequência?
- Ah, sim. Várias vezes por ano eu visito Rajagaha e retorno a Savatthi.
- Tendo ido e voltado tantas vezes, tendo percorrido tantas vezes o caminho daqui a Rajagaha, você conhece bem o percurso.
- Sim, senhor. Conheço a estrada perfeitamente. Diria que até com os olhos vendados eu poderia achar o caminho para Rajagaha, tantas vezes o percorri.
- Deve acontecer então que as pessoas lhe procuram para que lhes explique como chegar daqui a Rajagaha. Você esconde alguma coisa delas ou explica-lhes o caminho sem evasivas?
- O que haveria para esconder, senhor? Eu explico o mais claramente possível. Explico-lhes o caminho de maneira a não deixar dúvidas.
- E essas pessoas a quem você dá explicações tão claras, todas elas chegam a Rajagaha?
- Como poderiam, senhor? Somente aquelas que percorrem todo o caminho até o fim é que chegarão a Rajagaha.
- É isso que quero lhe explicar, meu jovem. As pessoas vem a mim sabendo que sou alguém que já percorreu o caminho daqui até o Nirvana e sabendo que o conhecem bem. Elas vem a mim e perguntam qual é o caminho para o Nirvana e a liberação. E o que há para esconder? Eu explico claramente: Esse é o caminho. Se alguém apenas abana a cabeça e diz "Bem dito, muito bem dito, um excelente caminho, mas não vou dar um passo nele; um caminho excelente, mas não vou me dar ao trabalho de percorrê-lo", como essa pessoa poderá atingir o destino final? Eu não carrego ninguém nos ombros até o destino final. Ninguém pode carregar ninguém nos ombros até o destino final. No máximo, com amor e compaixão, é possível dizer: "Bem, esse é o caminho e é assim que eu o percorro. Se você também trabalhar, se você também caminhar, certamente atingirá o destino final." Mas cada pessoa deve percorrê-lo por si, deve dar cada um dos passos ao longo do caminho por si. Aquele que deu um passo no caminho está um passo mais próximo do destino. Quem deu cem passos está cem passos mais próximo. Quem deu todos os passos do caminho atingiu o destino final. Mas cada um tem de percorrer o caminho por si mesmo…

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