domingo, 6 de junho de 2010

A JORNADA...



...Escute atentamente e ouça a melodia de um riacho. O seu canto é um convite para você: "Venha, amigo, venha usufruir da minha água refrescante" Tire os sapatos e pise devagar nessa água, sentindo o fresco agitar-se em torno dos seus pés. Comece a caminhar dentro do riacho, seguindo a sua trilha, sentindo a água subir até os tornozelos. À medida que se alarga e se torna mais fundo, o riacho o convida a sentar-se na água e a banhar-se — a usufruir mais inteiramente do seu poder de revigorá-lo."Venha", canta o riacho, "venha me acompanhar na minha jornada", naturalmente, você deita-se na água e flutua, sentindo que ela o sustenta e o embala à medida que penetra na floresta. Seu ritmo interior começa a se acelerar. Você percebe que há outros minúsculos riachos desaguando dentro de você. Você não é mais o mesmo. À frente, você vê que está se aproximando de rochas maciças e salientes. A força do seu movimento leva-o a chocar-se contra elas. Parte de você está procurando caminhos em torno das rochas; a outra parte caminha na água de volta para dentro de você mesmo. O impacto força os pequenos calhaus e pedras a virem à tona partindo das profundezas contidas em você e arremessa-os para longe. Esses calhaus e pedrinhas vêm viajando com você o tempo todo, mas até agora passaram despercebidos. Uma parte de você, amedrontada com a água agitada e com o torvelinho das ondas que parece não ter direcção, corre para um beco sem saída na margem do rio, procurando abrigo da corrente principal. No início, é um alívio refrescante. Há tranquilidade aqui. Você se sente protegido. Porém, à medida que o tempo passa e não há movimento, você começa a sentir preguiça. Parece que não consegue reunir energia para sair dessa água parada que agora mais se assemelha a uma armadilha que a um paraíso seguro. Tudo parece estar morto. A própria luz do sol fica mais turva e você percebe que uma neblina tênue embaça a luz...
Deixei-me ficar ali por alguns instantes...
Finalmente, das profundezas de suas águas, surge uma necessidade de sair dessa armadilha— um chamado longínquo, uma busca da correnteza... E um pedacinho de mim, apenas uma gotinha, começa a se movimentar mais uma vez. Trata-se de um pequeno jacto, no início, e é apenas a determinação que força o caminho através da vegetação densa. É preciso muito esforço para continuar em frente. Muitas vezes, veio insegurança,mas mesmo assim, persisti e tentei encontrar outro caminho.E, gradualmente, comecei a sentir que as margens estavam recuando. Havia mais espaço. Comecei a respirar fundo outra vez, ver de novo o sol. Agora estava mais forte. A antiga força estava de volta. Estava a ficar mais ágil, tornando-me mais decidida, movimentando-me num ritmo uniforme, passando por montanhas, vales e cidades. A pulsação interior estava muito forte agora, e sentia dentro de mim muita determinação.À distância, ouvi um rugido que se tornava mais alto a cada segundo. Comecei a mover-me com muita rapidez, e uma torrente de sentimentos se agitava no meu interior. Há uma catarata adiante, e não consegui evitar a queda dentro dela. Acaso isso significa a morte de tudo aquilo que conheci? Acaso toda essa força interior,estará perdida quando me entregar ao mergulho? As margens se dissipam.Sou arrastada até o precipício. É excitante. É irresistível. É aterrorizante.Estou caindo. Caindo. Toda a consciência se perde no rugido da água que cai pela cascata para baixo, para baixo. Por algum tempo, tudo fica muito confuso. Depois, vem o impacto.Com o silêncio, chega uma nova percepção. Ainda estava lá, ainda estava flutuando com essa corrente subterrânea da vontade que dirige o curso. Agora realmente sabia do que se tratava. Em torno, as águas que vão se juntando logo se unirão para se dirigir à Fonte.Logo descobri que é parte de um grande rio, estava num fluxo que não podia ser detido. O seu curso é seguro e uniforme. À medida que as margens se afastam, há cada vez mais espaço para me expressar. A luz do sol dança entrando em mim... E assim continuava me movimentando... A jornada agora é alegre,cheia de energia.E ali, bem à frente, acenando, há o mar admirável: "Venha para casa, venha depressa agora".O movimento cresce dentro de mim à medida que o mar afectuoso e maternal vem correndo para dar as boas vindas. Nesse encontro admirável,tudo é absorvido.Tudo se torna um com o mar maternal, um com Tudo O Que Existe. E o grande segredo é desvendado... não me perdi..estou intacta.... não desapareci na vastidão das águas. O mar foi absorvido para dentro de mim....Agora posso descansar em sua própria vastidão. Descansar na sua liberdade...
Não importa quantas limitações o retiveram, não importa quantas vezes a confusão arremessou-o longe; não importa quantas vezes você procurou escapar ou quanto difícil foi a luta para encontrar o seu caminho outra vez, mesmo quando a ordem para se entregar parecia significar a morte... o tempo todo... o seu curso estava determinado a encontrar o lar...

Adaptado-GLORIA KARPINSKI


CARPE DIEM

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