terça-feira, 25 de agosto de 2009

JARDIM SECRETO...







A iluminação e a liberdade espiritual só surgem quando o egoísmo dentro de nós é voluntariamente abandonado – ou quando ele entra em colapso. Em geral, o ser humano não faz renúncias por vontade própria. Em consequência disso, o despertar interior muitas vezes só ocorre quando nossa vida atravessa uma grave tempestade. O indivíduo redescobre então em um instante a sua esquecida insignificância diante do cosmo. Quebra-se a couraça de vaidades, apegos e comodidade, e a luz divina renova a paisagem. A pessoa encara novamente a realidade total da vida como um processo precário e maravilhoso, que se renova a cada dia, mas sempre provisoriamente. A fragilidade da vida física e de todas as suas rotinas mostra-nos, então, que a vida é fundamentalmente espiritual e só secundariamente material. Descobrimos que há uma vida maior, interior, completamente independente da maré inconstante das incertezas humanas. Mas não há progresso sem um preço a pagar por ele, e cada porção de sabedoria que alcançamos estabelece para nós a obrigação de renunciar a algo mais do mundo não-espiritual. Quando não ocorre a porção correspondente de renúncia, a sabedoria conquistada é esquecida ou se transforma em palavras vazias, até que haja a vivência necessária. Porque a iluminação é um barco frágil. Se o remador não for hábil, a luz naufraga nas ondas do mar de emoções e pensamentos.
Essas experiências, como é natural, variam materialmente conforme o grau de desenvolvimento individual, sua preparação prévia, seu temperamento etc.; mas certas características são comuns a todas. O sentimento mais comum é o da posse quase completa do conhecimento de todas as coisas .Esse sentimento existe apenas por um momento e nos deixa, a princípio, submersos em profunda pena pelo que chegamos a ver e que perdemos. Outro sentimento experimentado é o da certeza da imortalidade, - uma sensação de actual ser - a certeza de haver sido sempre e a de estar destinado a sempre ser. Outro sentimento é o do desaparecimento de todo temor e da aquisição de um sentimento de certeza, segurança e confiança, e que estão além da compreensão daqueles que jamais o experimentaram. Então, um sentimento de amor nos inunda - um amor que abarca a Vida toda , desde os mais próximos a nós, na carne, até aos das mais longínquas partes do Universo - desde aquilo que nós consideramos puro e santo, até aquilo que o mundo considera vil, malvado e completamente indigno. Esse sentimento de rectidão própria, que induz a condenar os outros, desaparece, e o amor, como a luz do sol, derrama-se sobre tudo que vive, sem ter em conta o seu grau de desenvolvimento ou bondade.
A alguns, essas experiências chegaram como um profundo sentimento de reverência que tomou completa posse deles, por alguns momentos ou mais tempo, enquanto que a outros se afigurava que se achavam num sonho e chegaram a ser conscientes de uma exaltação espiritual, acompanhada de uma sensação de estar circundando os compenetrados por uma luz brilhante.
Essas experiências produzem uma mudança na mente daquele que passa por elas e que depois nunca torna a ser o mesmo homem que de antes. Ainda que a recordação vívida desapareça, fica ali certa reminiscência que, por longo tempo, será para ele um manancial de bem estar e de força, especialmente quando a sua fé vacila e se sente agitado, como uma cana, pelos ventos de opiniões em conflito e especulações do intelecto. A lembrança de tal experiência é uma fonte de renovada energia.
Tais experiências são também usualmente acompanhadas de uma sensação de intensa alegria; mas não é uma alegria de experiência ordinária - é alguma coisa que não pode ser sonhada senão depois de havê-la experimentado - uma alegria cuja lembrança estimulará o sangue e fará palpitar o coração, todas as vezes que a mente relembrar a experiência.
Uns disseram-nos de um modo, outros de outro, mas todos dizem praticamente a mesma história. Todos os que têm experimentado essa iluminação, ainda que fosse em débil grau, reconhecem a mesma experiência na relação.É o canto da alma que, uma vez ouvido, jamais é esquecido. Ainda que seja expresso pelos toscos instrumentos ou pelos mais aperfeiçoados talentos musicais da actualidade, seus tons são claramente reconhecidos.

«Que essa grande alegria da iluminação seja vossa, queridos estudantes. E vossa será no seu tempo oportuno. Quando ela chegar, não vos alarmeis, e quando vos abandonar, não lamenteis sua perda - voltará outra vez. Vivei elevando-vos acessíveis à sua influência. Estais sempre dispostos a escutar a voz do silêncio, prontos sempre a responder ao toque da Mão Invisível.
Não torneis a temer, porque convosco tendes sempre o Ser Real que é uma chispa da Chama Divina, e o qual será como uma lâmpada que iluminará o caminho a vossos pés».

- Por Iogue Ramacháraca -
(Texto extraído do livro "Catorze Lições de Filosofia Iogue", do Iogue Ramacháraca; Editora Pensamento)




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