terça-feira, 13 de julho de 2010

A entrega...




Para muitas pessoas, a entrega talvez tenha conotações negativas, como uma derrota, uma desistência,uma incapacidade de se reerguer das ciladas da vida, certa letargia, etc.
A entrega é a sabedoria simples mas profunda de nos submetermos e não de nos opormos ao fluxo da vida. O único lugar em que podemos sentir o fluxo da vida é no Agora. Isso significa que se entregar é aceitar o momento presente sem restrições e sem nenhuma reserva.
A entrega é perfeitamente compatível com tomar uma atitude, iniciar uma mudança ou atingir objectivos.No estado de entrega, uma energia totalmente diferente flui naquilo que fazemos.Entregar-se é a coisa mais importante que você pode fazer para provocar uma mudança positiva.
No estado de entrega, você vê claramente o que precisa ser feito e parte para a acção, fazendo uma coisa de cada vez e se concentrando em uma coisa de cada vez.
Olhe para uma situação específica e pergunte-se: “Existe alguma coisa que eu possa fazer para mudar essa situação, melhorá-la ou me retirar dela?” Se houver, você toma a atitude adequada. Não se prenda às mil coisas que você vai ter que fazer em algum tempo futuro, mas na única coisa que você pode fazer agora. Isso não significa que você não deva traçar um plano. Planejar talvez seja a única coisa que você possa fazer agora.Mas certifique-se de que você não vai começar a rodar “filmes mentais”, se projectar no futuro e, assim, perder o Agora. Talvez a atitude que você tomar não dê frutos imediatamente. Até que ela dê, não resista ao que é. Se não houver nada que possa fazer e você também não puder escapar da situação, use isso para poder ir mais fundo na entrega, mais fundo no Agora, mais fundo no Ser. Quando entra nessa eterna dimensão do presente, a mudança sempre acontece por caminhos estranhos, sem a necessidade de uma grande quantidade de atitudes da sua parte. A vida se torna proveitosa e cooperativa. Se factores internos como o medo, a culpa ou a indolência
impedem você de tomar uma atitude, eles vão se dissolver na luz da sua presença consciente.
Não confunda entrega com uma atitude do tipo “não ligo mais para nada”. Essas atitudes estão cheias de negatividade na forma de um ressentimento oculto, portanto não se trata de entrega mas de uma resistência disfarçada.
Até que você pratique a entrega, a dimensão espiritual é algo a respeito do que você já leu, ouviu falar,escreveu, pensou, acreditou ou não. Não faz diferença. Não até que a entrega tenha se tornado uma realidade em sua vida. No momento da entrega, a energia que você desprende e que passa a governar sua vida é de uma frequência vibracional muito maior do que a energia da mente.Você sente a energia… está livre…
Se você não consegue se entregar, aja imediatamente. Fale ou faça alguma coisa para provocar uma mudança na situação, ou se afaste dela. Seja responsável pela sua vida. Não polua o seu lindo e radiante Ser interior com negatividade. Não transmita infelicidade, nem deixe que ela crie um lugar dentro de você.
Você só precisa se preocupar com o aspecto interno. Isso é fundamental. É claro que ele vai acabar modificando suas atitudes externas.
O ego acredita que a nossa força reside em nossa resistência, quando, na verdade, a resistência nos separa do Ser, o único lugar de força verdadeira. A resistência é a fraqueza e o medo disfarçados de força. O que o ego vê como fraqueza é o Ser em sua pureza, inocência e poder. O que ele vê como força é fraqueza. Assim, o ego existe num modo contínuo de resistência e desempenha papéis falsos para encobrir a “fraqueza”, que, na verdade, é o nosso poder.
Até que haja a entrega, a representação inconsciente de determinados papéis se constitui em grande parte da interacção humana. Na entrega, não mais precisamos das defesas do ego e das falsas máscaras. Passamos a ser muito simples, muito reais. O ego não sabe, é claro, que somente quando deixamos de resistir, quando nos tornamos vulneráveis, é que podemos descobrir a nossa verdadeira e fundamental invulnerabilidade.
Nossa primeira chance é nos entregarmos, a cada instante, à realidade do momento. Sabendo que aquilo que é não pode ser desfeito – porque já é –, dizemos sim àquilo que é ou aceitamos o que não é. Então fazemos o que tem de ser feito, o que quer que a situação exija. Se nos submetemos a esse estado de aceitação, deixamos
de criar negatividade, sofrimento ou infelicidade. Passamos a viver em um estado de não-resistência, um estado de graça e de luz, livre das disputas.
Sempre que você for incapaz de realizar isso, sempre que perder essa oportunidade, seja porque não está gerando uma presença consciente o bastante para evitar o surgimento do padrão de resistência habitual, seja porque as circunstâncias são tão extremas que são completamente inaceitáveis, você está criando alguma forma
de dor, alguma forma de sofrimento. Pode parecer que é a situação que está causando o sofrimento, mas não é bem assim: a responsável é a sua resistência.
Aqui está a sua segunda chance de entrega. Se você não consegue aceitar o que está lá fora, aceite então o que está dentro. Isso quer dizer, não resista ao sofrimento. Permita que ele esteja ali. Entregue-se ao pesar, ao desespero, ao medo, à solidão, ou a qualquer forma que o sofrimento assuma. Abrace o sofrimento. Veja, então,
como o milagre da entrega transforma o sofrimento profundo em uma paz profunda.

Eckhart Tolle


CARPE DIEM

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